quarta-feira, 9 de outubro de 2019

DICAS PARA LÍDERES DE IGREJAS

...ou "quem anda para trás é caranguejo"...

O crescimento de igrejas nessa primeira década do Século
XXI se transformou em assunto digno de atenção por parte de seus líderes.
Há pouco mais de trinta anos no Brasil, existiam duas religiões dominantes: católicos e protestantes. Ou você era uma coisa ou você era outra. É certo que entre os protestantes existiam pequenas facções ditas tradicionais ou pentecostais. Então era mais fácil: se você gostasse de santo e de missa, você era católico e se você não gostasse de santo, você era protestante. Se na sua igreja protestante o culto acontecia com as portas abertas, você era tradicional, mas se na sua igreja tinha um culto onde as portas permaneciam fechadas na hora da oração, você era pentecostal. Simples assim.
Depois da década de 80, ainda no século passado, novas igrejas e ministérios surgiram numa velocidade meteórica e não pararam mais de aparecer. É preciso muito cuidado para não sucumbir diante de novas e prósperas denominações emergentes que crescem com a força de um tsunami, para usar uma palavra bem atual.
O líder de uma comunidade eclesiástica precisa seguir algumas regras ou passos para que seu povo cresça e apareça numa sociedade marcada pela competição neoliberal. Para isso é preciso planejar bem as coisas.
Em primeiro lugar, acabe com o modelo de liturgia de culto que você conhece: música de prelúdio, momento de oração, oração pastoral, avisos da semana, hinos e cânticos, ofertório, mais avisos, pregação, apelo e bênção apostólica (com ou sem o tríplice amém).
Isso é cansativo, meu amigo e as pessoas não têm mais tempo a perder. Há muita coisa legal pra se fazer no domingo. O finalzinho do Domingão do Faustão com aquelas videocassetadas é imperdível. Se o culto demorar muito, a gente perde a eliminação do BBB e a poesia do apresentador. Se tiver paredão surpresa então, é um crime estar na igreja numa hora dessas. Divida então o culto em
três partes: louvor, palavra e oração. Insira discretamente o momento de ofertas no louvor, sem que eles parem de tocar, porque afinal de contas tem luz e telefone para pagar.
O louvor, requer alguns recursos, sem os quais é impossível cultuar a Deus. Primeiro, é o instrumental. Teclados como Roland ou baterias Yamaha com pratos Zildjian, fazem a diferença na qualidade musical. Não seja “pão duro” nessa hora. Microfones sem fio Shure, mesa de som Mackie com pelo menos 36 canais, monitores de retorno, projetor da Sony e por favor, vozes mistas com divisão em três níveis, pelo menos. Pode ser contralto, soprano e tenor. Nunca inicie “a seco”. O piano começa a tocar uma música suave e uma mulher (sem preconceito, é um diferencial) pergunta: “quantos estão preparados para a descida do Espírito Santo aqui nessa noite”? Claro que não interessa se o Espírito Santo já desceu há dois mil anos lá no Pentecoste. O cliente, digo,
o fiel precisa ter a sensação de que vai ser visitado pela divindade, que veio ali só para vê-lo e, depois do culto, volta para o seu trono no céu. Não se preocupe com esses detalhes teológicos. Na verdade, é bom não teologizar muito, senão as pessoas vão pensar que você é teólogo e todo mundo sabe que teólogo não tem unção.
A citação do lugar e da hora é importante. Jamais esqueça dos termos “aqui” e “nessa noite”.
A palavra também precisa ser tratada com cuidado. Esqueça aquelas mensagens ou sermões de uma hora, uma hora e meia. A Polishop vende seus produtos em pouco mais de um minuto. Se você der dois minutos de atenção para ela, você compra o redutor de celulite, o exercitador de abdômen, a capa para guardar os dois, a esteira e o espelho para você ver como sua barriga está um tanquinho.
Meu jovem pastor, você já reparou como é desconfortável
carregar uma bíblia debaixo do braço em dia de chuva? E no carro?
Não há lugar para ela. Se você colocá-la sobre o painel ela escorrega, se você colocá-la no porta-luvas, você esquece. Se você colocá-la no banco de trás, as crianças pisam em cima. Sem falar na malandragem. Eles vêem um cara com uma bíblia e já assaltam.
Sabem que no bolso dele vai uma oferta, um propósito e se for início de mês, o dízimo. Então, acabe com esse negócio de mandar os outros trazerem a bíblia para a igreja. É pesado, desagradável, vagaroso e sempre tem um irmãozinho que olha para você e pergunta: “onde fica Habacuque”? Coloque o texto no telão! O Power Point do Office faz milagres com seu texto bíblico. Ele surge de baixo pra cima, da direita para a esquerda, tipo máquina de escrever colorida, um show. Dá pra colocar um fundo de tela com a mão negra de uma criança segurando a mão branca de um adulto, ou ainda um homem de costas com os dois braços abertos em frente ao por do sol, sem atrapalhar a leitura do texto.
No púlpito, faça uma coisa simples: retire o púlpito. Coloque uma estante de acrílico. As pessoas querem ver o seu sapato de cromo alemão, seu terno Armani e sua gravata Yves Saint Laurent. O paletó fica sempre na cadeira, gravata meio folgada e mangas arregaçadas para dar a impressão de trabalho e dinamismo. Use lentes e aposente os óculos para você não ficar colocando e tirando os óculos enquanto prega.
A pregação precisa ser um misto de Stand Up Comedy com discurso de protesto comunista. Você precisa ser engraçado e enfático. Precisa passar a mensagem com ousadia e alegria. Você pode contar fatos engraçados antes de tornar-se evangélico, principalmente episódios da área financeira. Não é de bom tom você dizer que vivia bêbado ou drogado antes de entrar para a igreja. Deixe isso para os pastores de periferia. Mas é legal você contar que não tinha um centavo para pagar o aluguel e hoje tem
um “4” suítes, andava de bicicleta e hoje tem uma SW4 Hillux, não tinha dinheiro para por crédito no celular e hoje tem um iPhone. E por mais que tenham sido os próprios fiéis que tenham te dado essas coisas, diga sempre que foi Jesus.
Durante a mensagem você pode usar de trocadilhos e afins como recurso de humor. Ao invés de “macumba”, diga “boa cumba” e diga que fala assim para envergonhar o inimigo. Não diga “capeta”, mas “lá peta”, porque você não quer o tinhoso “cá” e sim “lá”. Profecias que não aconteceram, chame-as de “profetadas”.
Quando fizer uma campanha de prosperidade, diga que “quem anda para trás é caranguejo”. Quando alguém disser que é crente você diz: “crente até o diabo é”. Essas palavras e expressões podem parecer ridículas, mas acredite, meu amigo e jovem pastor: eles adoram! Não deixe também de ridicularizar o inferno. O diabo é cheio de “marmota” e já está derrotado. Ele foi tão envergonhado que não tem nem a chave da própria casa. O diabo bate em retirada e não consegue prevalecer, embora ande em derredor rugindo como um leão que vem roubar, matar e destruir, mas seu destino é o lago de fogo. Diga sempre essas coisas em tom jocoso, de zombaria, de menosprezo para que seus clientes, digo, fiéis sintam a pressão do poder que você tem.
Não se esqueça de usar sempre o evangeliquês. É o socioleto do seu público. Expressões como “varão de fogo” e “mulher virtuosa”, “príncipes de Deus”, “jovem ungido”, “passar pelo deserto”, “estar na visão ou fora dela”, “subir ao Moriá”, “leão de Judá” e “vigiar em santidade” precisam ser bem exploradas. Quem não sabe, se adapta rápido.
Ainda sobre a pregação, cuidado para não se aprofundar no caráter de Cristo. Se as pessoas entenderem que precisam imitá-lo, ou viver o Sermão do Monte, ou dar a outra face, ou nascer de novo, elas irão embora, e tenho certeza de que você não quer isso.
Então, quando o assunto for Jesus Cristo, seja superficial. Coloque-o sempre como alguém que guerreia pelo seu cliente a serviço de Deus, sempre que seu cliente orar. Não caia no erro de pregar sobre a segunda vinda de Cristo. Ninguém acredita mais nisso e o culto acaba virando um tédio. Sem falar que esse assunto só serve para colocar medo em alguns que insistem em ser mais fervorosos.
Já que você não vai centralizar Jesus Cristo em suas mensagens, você precisa de novos ícones. De preferência,
humanos como nós. Coisas que Jesus fez, a gente não consegue mesmo, então, escolha com cuidado. As personagens do Antigo Testamento são mais ricas nesse aspecto. Elas guerreiam, matam, espoliam, mentem, traem, tudo o que a gente sempre quis fazer com a aprovação de Deus. As personagens do Novo Testamento
são mais perigosas, então, selecione com cuidado. Quando for falar de Paulo, use somente a frase: “posso tudo naquele que me fortalece” e não esqueça de simplificar para “posso todas as coisas”. Quando for falar de João, use somente a frase: “maior é o que está em nós”. Não caia na bobagem de citar os textos de Paulo
sobre a pobreza ou os textos de João sobre o amor. Definitivamente não dão IBOPE.
Já no Antigo Testamento você pode “deitar e rolar”. Ele tanto é rico em personagens quanto em símbolos. Você pode explorar o óleo, a água, o sal, o fogo, o martelo, a pedra, a rosa, a espada, o escudo, o manto, a lança, a púrpura, o ouro, a prata, o bronze, a serpente, o carneiro, o bode, a jumenta, e coisas que não existiam naquela época, como fotografia, jeans, relógio, desde que associados ao óleo, a água ou ao sal. Quanto às personagens, também é preciso cuidado. Ao invés de dizer que Abraão deu seu filho porque Deus pediu, diga que ele derrotou nove reis de nove reinos com 318 homens. Diga também que ele era riquíssimo. De Isaque, diga apenas que encontrou sua Rebeca: as irmãs vão se arrepiar. De Jacó, não diga que ele ficou só ou que foi feito de bobo pelo próprio tio, ou ainda que morria de medo do irmão. Diga apenas: “Jacó lutou com Deus”. Diga que só soltou Deus quando recebeu a bênção. De José, não diga que foi escravo ou prisioneiro por longos anos, mas diga que foi governador do Egito e que mandava mais que o Faraó. Muito cuidado com Moisés. Não se esqueça de que ele matou um cara. Mas o fato dele ter aberto o mar é bastante relevante. Mandar pragas nos inimigos também foi demais. Josué derrubou uma muralha e assim também as muralhas que o inimigo levanta na vida de seus clientes serão derrubadas também. Gideão derrotou 135.000 homens apenas com 300 e não levantou a espada. Sansão é demais. Ele mente, engana, e se deita com prostitutas, mas o poder ainda está com ele. Excelente exemplo! De Davi, não diga que ele tramou a morte de Urias ou que foi destronado pelo próprio filho, mas diga que ele matou o gigante. Assim também, os gigantes que se levantam em forma de dívidas ou fofocas contra os seus clientes, serão abatidos. Enfim, se Santo Agostinho, que era católico, abusou das alegorias, deixe a sua imaginação fluir, pois inventar não é pecado, sempre lembrando que “quem anda para trás é caranguejo”. Você pode criar uma capa azul para Jônatas que simboliza o céu, uma sandália vermelha para Sansão que simboliza o sangue protetor, que tem ligação com o sangue do cordeiro, uma toalha de mesa usada no palácio de Davi que cobria os pés dos príncipes e assim o manto de Cristo cobre nossos pés nos fazendo assentar em lugar de honra, onde vivem os reis, onde pousam as águias e onde homem algum jamais sonhou alcançar, porque fica no terceiro céu que acontece aqui e agora em suas vidas (não esqueça a hora e o local, lembra?).
Uma coisa que um pregador precisa entender, é que poder
está diretamente ligado ao decibel. Quanto mais decibéis, mais poder. Isso pode ser conseguido com uma parceria entre o aparelho fonador e o garoto que cuida do som na igreja. O aparelho fonador trabalha a toda potência, enquanto o garoto que cuida do som aciona os botões do efeito e do eco, juntamente com um “plus” no volume do seu microfone. A fórmula e simples: som mais alto, mais
fé; som mais baixo, menos fé. Essa é a hora em que você se sente como um orador do partido comunista atacando a burguesia. Grite e esbraveje. As pessoas precisam entender que você tem raiva do inferno, da pobreza, da dívida, da depressão, do vizinho fofoqueiro que é usado pelo diabo. Quando gritar uma expressão enfática, use sempre palavras em língua estranha, como “chebalaias” ou “decantas”, no final da frase, retirando lentamente o microfone da boca para dar um efeito “fade out”. Por exemplo, você pode dizer: “você que entrou aqui nessa noite, achando que estava derrotado, Deus me manda dizer que o seu gigante já foi abatido, chebalaias, tecomanevias, malacaias”. Não esqueça de ir afastando o
microfone. As pessoas precisam entender que você fala em línguas, mas não quer ostentar.
Durante o culto não se esqueça da interatividade. Existem
comandos importantes na interação do culto, como: “Diga
misericórdia”! “Diga aleluia”!, “Diga glória a Deus”!, “Olhe para o irmão do lado e profetize na sua vida”!, “Levante as duas mãos para o alto”!, “Coloque sua mão direita sobre o seu coração”! Não se preocupe com a movimentação. Igreja parada é igreja fria. Eles precisam de exercício durante o culto, principalmente com os braços e pescoço. Então, faça-os olhar para os lados, para cima, para baixo, levantar uma mão, as duas, sentar e levantar. Qualquer dúvida, assista a missa do Padre Marcelo que ainda tem muita dica legal.
Por fim, no momento da oração, você precisa deixar claro que é exatamente ela, a oração, que move a mão de Deus. As coisas só acontecem quando o povo ora. O poder é de quem ora, pois quando esse alguém ora, Deus é cutucado pelo poder da oração, ou seja, a fumaça chega nas narinas divinas e ele aciona o exército celestial. Então, os anjos começam a se mover. Eles estão ali, paradinhos, quietinhos, cantando “santo, santo, santo”, dia noite, num marasmo total, até que alguém ora. Aí eles pegam a ficha do sujeito, a ficha da igreja e da cidade onde o sujeito está, para que possa derramar a bênção sem equívoco. Depois, assinam a autorização de voo e vêm para cá, pagar contas, dar promoções no emprego, ferir demônios e coisas afins. Por isso a oração é um momento especial. Não perca tempo agradecendo nada nem fazendo a chatice da contrição. Apenas peça e declare. Declare a vitória, a cura e a prosperidade, basicamente essas três coisas.
Não se esqueça do Marketing. Sua igreja é a certa e as outras estão fora da visão. As coisas só melhoram quando as pessoas direcionam seu dinheiro para a sua igreja. Quanto ao título, jamais use “pastor”. É sinônimo de pobreza, como aquele cara que vem realizar o culto de calça social, chinelo e mangas compridas em cima de uma bicicleta, com a bíblia no bagageiro ou sinônimo de
corrupção, como aquele cara que limpa o gazofilácio depois do culto e vai pro motel com a irmãzinha. Com os adventos Macedo, RR e Santiago, você pode usar três tipos de títulos. Missionário, sinônimo de trabalhador do evangelho; Bispo, sinônimo de executivo bem sucedido; Apóstolo, sinônimo de empresário poderoso material e espiritualmente.
Finalmente lembre-se que o povo é massa de manobra e quer ser manobrado; doentes que querem acreditar que estão curados sem auxílio de médicos e psiquiatras; pessoas que querem pecar, principalmente se o pecado envolver dinheiro, sexo e poder.
Em suma, a regra de ouro é: “quem anda para trás, é caranguejo”!

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