quinta-feira, 21 de março de 2013

RATOS

     Ratos são famosos. A Cultura Pop parece gostar muito deles, haja visto o vasto staf que habita a mídia: O mais famoso deles, é claro, é o Mickey Mouse, criação de Walt Disney, misto de herói e “cara legal” com rígidos padrões de justiça e disposto a ser um exemplo no meio em que vive, formado principalmente pela Minie, o Pateta – um cachorro bem idiota, o Donald – um pato fanhoso, como se isso não fosse redundante, e o Pluto, um outro cachorro, grandessíssimo filho da Pluta. Outro clássico da fama é o Ligeirinho (Gonzalez), o rato mais rápido do mundo, sempre arrancando os pedaços de queijo das ratoeiras sem que ninguém veja como ele faz a peripécia – todavia não passa de um ladrão. O Super Mouse, não menos famoso, é um herói que voa, tem superaudição e visão de raios-X. Não poderíamos esquecer também de Jerry, o ratinho que foge do gato Tom, e do italiano Topo Gigio. Há ratos quase humanos como o Rémy, o rato cozinheiro de Ratatouille e o Stuart Little, que divide com seu irmãozinho capeta, Jonathan Lipnicki, a atenção de seus pais humanos, Geena Davis e Hugh (Dr. House ) Laurie. Tem também o Fivel, do “Sonho Americano”, o Roddy, de “Por água abaixo” e o brasileiro das tirinhas da Folha, o Niquel Náusea, um imenso cafageste. 

     O fato é que ratos são nojentos, por mais que os humanos ratólogos, ratófilos, ratistas e ratófagos queiram amenizar a sua imagem. Rato existe para a gente ver a ratoeira disparar e decepar sua cabeça. Rato existe para a gente praticar tiro ao alvo com estilingue, funda, baladeira e espingarda de chumbinho. E por falar em chumbinho, Rato existe para a gente envenená-lo, para vê-lo em decúbito dorsal, rígido, imóvel, com carinha de quem sentiu um gosto amargo na boca. Existe para a gente pegar um saco plástico, enrolar na mão, pegar no rabo dele e jogar na lixeira, sem se preocupar com sua extinção e com o desequilíbrio ecológico, coisas que não vão acontecer sob nenhuma hipótese. Rato é tão escroto que quando você quer chamar um político de ladrão você usa as metáforas, da menor para a maior: catita, rato, ratazana e gabiru. 

     Pois, nesta semana, um filho de uma ratazana desses causou um apagão na Tokyo Electric Power (TEPCO), interrompendo o fornecimento de energia na central nuclear japonesa de Fukushima, paralisando os sistemas de refrigeração das piscinas de armazenamento de combustível usado na usina. Uma piscina de resfriamento contém seis mil barras de combustível e esse pequeno bostinha quase causou, na segunda-feira passada, o mesmo acidente que um tsunami, que abala as entranhas do Planeta, causou em 2011. 

     Passado o susto, os dois únicos motivos de alívio na história é saber que o aumento da temperatura dos reatores só chegou a 31,8 graus Celsius, ainda distante do limite de segurança que é de 65 graus Celsius  e de ver na foto divulgada pela Folha de São Paulo, a foto da silhueta de pelos do ratinho impressa na parede da usina, completamente explodido e incinerado pelo choque elétrico que levou. A gente não diz, mas pensa: “que bom que deu tudo certo” e “toma filho da puta”. De resto, fica o nosso respeito ao Tom e ao Frajola, verdadeiros heróis que não salvaram o Japão de mais um desastre nuclear, mas que sabem a dor de ser incomodado por essas pestes.