sábado, 19 de novembro de 2016

CALMA! DEUS NÃO VAI JULGAR O BRASIL

Em 2010 eu tinha um blog chamado LÊ AÍ, Ó! Escrevi esse texto depois de uma declaração que o pastor titular da Primeira Igreja Batista de Curitiba fez acerca da necessidade dos cristãos votarem no PSDB, pois se votassem no PT, Deus julgaria o Brasil. Apesar do legado do Lulopetismo para o país, continuo pensando do mesmíssimo jeito, e a situação de crise que vivemos, decorre muito mais da nossa própria ignorância do que julgamento divino. Agradeço ao Pavablog por esse texto ainda estar lá. http://www.pavablog.com/2010/09/25/calma-deus-nao-vai-julgar-o-brasil/#comment-82456

No dia 31 de agosto passado, o canal da Primeira Igreja Batista de Curitiba, no YouTube, postou um vídeo, de pouco mais de 11 minutos, onde é mostrado um trecho de um dos cultos daquela igreja, onde o Pastor titular, Paschoal Piragine Junior, se pronuncia acerca das eleições 2010.

Nesse pronunciamento o pastor aconselha os seus ouvintes a não votarem nos candidatos do PT, Partido dos Trabalhadores, porque os mesmos haveriam firmado um acordo, comprometendo-se, caso eleitos, a votarem afirmativamente em projetos de lei que comportam em seu bojo questões polêmicas como o direito da mulher ao aborto, o casamento homossexual, a lei da mordaça, entre outros. Tais questões o Pr. Pascoal qualifica como “iniquidade”.

No mesmo vídeo o pastor dá a sua definição para o termo: “…iniqüidade é quando a gente ‘tá’ tão acostumado ao pecado, que o pecado, a gente não tem mais vergonha de cometê-lo e ele passa a ser algo tremendamente natural na nossa vida, e a Bíblia diz que quando a iniquidade chega, ou seja, o coração do homem ‘tá’ tão endurecido, que ele não se envergonha mais do pecado, ele não pode reconhecer nem que aqui alguma determinada ação é pecado, é tempo que Deus tem que julgar a sua terra, que julgar o seu povo, que julgar a nação”.


Após a postagem desse vídeo a comunidade evangélica partiu para a ação: centenas de milhares de envios, tanto do vídeo quanto do link, ocorreram via E mail, Twitter, Orkut, Messenger, Skype e outros. Foi como um grande formigueiro virtual transportando informações. O vídeo tinha, às 15 horas do dia 24 de Setembro de 2010, a menos de um mês de sua postagem, 2.265.840 exibições.

Consequentemente, centenas de milhares de pessoas receberam a mensagem do Pr. Pascoal, agradecidos e confortados por terem um verdadeiro representante do Senhor Deus zelando por suas pobres almas ingênuas.

A possibilidade de questionamento ou oposição ao que disse o pastor tornou-se um absurdo, afinal, trata-se de alguém que se posicionou como bastião da moralidade. Alguém que detém em primeira mão a informação de que há uma conspiração do mal acontecendo para afastar o nosso pobre país dos olhos bondosos de Deus, através da prática da “iniquidade” e assim atrair para si mesmo a ira divina, sob forma de seu julgamento mais cruel. Alguém que sabe que no mundo político e governamental há uma espécie de influência maligna que tenta tirar o Brasil da condição de país abençoado por Deus. 

Foi exatamente isso o que disse Pascoal aos 3 minutos e 20 segundos do vídeo, usando precisamente essas palavras: “e Deus não vai ter outra coisa a fazer, senão julgar a nossa terra, é isso o que a Biblia diz”.

Como Pascoal não forneceu qualquer referência de onde se encontram esses textos, devemos supor que são textos bem conhecidos, corriqueiros, comuns no âmbito evangélico. Um desses textos mais comuns trata de uma aliança que Deus fez com seu povo, Israel, onde ele promete abençoar de várias formas a nação, desde que ande segundo sua lei. Todavia, promete amaldiçoar o povo caso sua lei não seja obedecida.

Trata-se de do livro de Deuteronômio, capítulo 28, versículos 16 a 44, texto famoso pelas maldições impostas como juízo a um povo que abraçou a iniquidade. O texto diz, na tradução Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida: “Maldito serás tu na cidade e maldito serás no campo (…) maldito o fruto do teu ventre (…) maldito serás ao entrares e (…) ao saíres (…) o Senhor te fará cair diante dos teus inimigos; por um caminho, sairás contra eles, e, por sete caminhos, fugirás diante deles (…) o Senhor te ferirá com loucura, com cegueira e com perturbação do espírito (…) desposar-te-ás com uma mulher, porém outro homem dormirá com ela; edificarás casa, porém não morarás nela (…) o teu boi será morto aos teus olhos, porém dele não comerás; o teu jumento será roubado diante de ti e não voltará a ti; as tuas ovelhas serão dadas aos teus inimigos; e ninguém haverá que te salve (…) o estrangeiro que está no meio de ti se elevará mais e mais, e tu mais e mais descerás. Ele te emprestará a ti, porém tu não lhe emprestarás a ele; ele será por cabeça, e tu serás por cauda”.

Realmente terrível. Mas graças ao Pascoal, essas coisas não vão nos acontecer, desde que eu siga o seu conselho: não votar no PT, Partido dos Trabalhadores. Que bom! Eu já não gostava mesmo desse partido de políticos sonsos, ladrões, mensaleiros, transportadores de dinheiro em cuecas, malas, paletós e afins. Partido de gente que dança no congresso comemorando a impunidade alheia, de gente que desdenha do povo e enriquece de forma ilícita e assustadora.

Todavia, há alguns pontos obscuros no “Posicionamento do Pr. Paschoal Piragine Jr. sobre as eleições 2010”. Alguns pontos que gostaria de refletir acerca deles.

O primeiro deles trata da definição pascoalina de iniquidade. Pascoal diz que iniquidade é estar demasiadamente acostumado ao pecado, perdendo-se a vergonha de cometê-lo, tornando-o natural no curso da vida, impossibilitando a si mesmo de reconhecer a ação ou prática pecaminosa.

Realmente é difícil de acreditar que o pastor desconhece a verdadeira definição do termo, oriunda das páginas do livro sagrado, dos dicionários de língua portuguesa, bem como da tradicional Teologia Sistemática, já que é professor da faculdade Teológica Batista do Paraná, uma das primeiras a ter o reconhecimento do MEC, referência na teologia protestante. Apesar de que no site dessa instituição, dos 14 docentes com currículos apresentados, só o ícone correspondente ao currículo do pastor está inativo. Todavia deve-se crer que o padrão de formação do pastor é tão alto quanto o dos outros 13 docentes, todos mestres e doutores.

Longe de “estar demasiadamente acostumado ao pecado, perdendo-se a vergonha de cometê-lo”, o substantivo feminino de origem latina (iniquitate), denota a falta de equidade, de justiça, corrupção de costumes, ação injusta ou crime.

Quando esse vocábulo aparece nas páginas da Bíblia, no Antigo Testamento, ele é usado para traduzir o substantivo hebraico ‘avon (Nwe), que possui o sentido de perversidade, depravação, iniquidade, culpa ou punição por iniquidade. Esse substantivo tem origem no verbo ‘avah (hwe) estar curvado, ser torcido, ser pervertido, agir erradamente, perverter.

Quando o vocábulo aparece no Novo Testamento, pode originar dos termos adikia (adikia) ou anomia(anomia) e denotam uma profunda violação da lei e da justiça ou desprezo e violação da lei. O Dicionário da Bíblia de Almeida, da Sociedade Bíblica do Brasil traz a seguinte definição: iniquidade é o pecado que consiste em não reconhecer igualmente o direito de cada um, em não ser correto, em ser perverso.

O fato é que Pascoal distorceu o sentido do texto e usou para o contexto que bem quis e entendeu, a fim de se chegar a um objetivo claro: convencer os seus ouvintes e fieis espectadores de que há pecado nas votações do PT e Deus não está gostando nada do que está acontecendo. Um julgamento divino iminente pode se abater sobre o Brasil.

Para piorar o que já não está bom, Pascoal faz uma exegese errada do texto que, na verdade, só ele mesmo sabe qual é, dentro de uma das áreas mais delicadas da Teologia Sistemática – a Escatologia, doutrina das coisas futuras.

Segundo os ensinamentos da Teologia Sistemática, na área da Escatologia, figurinha fácil em qualquer sala de aula de qualquer instituição de ensino religioso, inclusive as instituições batistas, filiadas à mesma convenção da Primeira Igreja Batista de Curitiba, pastoreada por Pascoal, não vai haver juízo nenhum. Isso mesmo, podem se acalmar porque Deus não vai julgar o Brasil.

Deus não vai julgar o Brasil por dois grandes motivos clássicos extraídos do ensino da Teologia: primeiro, porque a geração pós Cristo, ou seja, todas as pessoas que nasceram depois de Jesus, fundador do Cristianismo, não estão debaixo das regras da aliança que Deus teria feito com a nação de Israel por volta do ano 1.500 a.C.

A Bíblia fala de algumas alianças que Deus teria feito com os homens, tipos de contratos, onde o divino interagia com o humano. Alguns exemplos são a aliança Adâmica, onde Deus entra com a bênção sobre toda a criação e o homem entra com a multiplicação de si mesmo, dos animais e plantas; a aliança Noética, onde depois do dilúvio Deus promete jamais destruir novamente a terra por meio de dilúvio; a aliança Mosaica ou do Sinai, essa que promete abençoar e amaldiçoar conforme o proceder da nação de Israel, bem como sua relação com a iniquidade; a aliança davídica onde Deus promete ao rei Davi que não faltaria sucessor ao seu trono.

Mas quando Jesus se manifesta como ícone de uma nova religião, quando assume ser o vigário de Deus e filho de Deus, quando decide estabelecer um aglomerado de fiéis chamado igreja, firma uma nova aliança com seus seguidores. Uma aliança definitiva, insuperável e desprovida de troca, ou seja, o homem não precisaria fazer nada para merecê-la porque ela seria dada de graça e por amor, vinda da parte de Deus para a humanidade.

Essa aliança está mostrada na Bíblia, no Novo Testamento, entre vários textos, em Mateus capítulo 26, versículos 28 e 29: “Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai”.

Ora, a coisa toda é bem simples. Jesus morreria na cruz e o seu sangue representaria uma nova aliança que remiria os que nele cressem dos seus pecados. Realizada essa purificação de pecados ele se reuniria novamente com seus seguidores no reino do Pai.

São três passos simples: Morte de Cristo, crença em Cristo para perdão de pecado e encontro com Cristo no reino do Pai. Isso é a nova aliança, onde não há via de mão dupla, ou seja, faça o certo que Deus abençoa, faça o errado e ele te ferra. Seja fiel e seu país enriquece, seja iníquo e o sua nação se ferra. A única via que há é de mão simples. Cristo fez, faz e fará: morreu, perdoa e voltará.

Isso é cristianismo puro, bíblico e fundamental, seu Pascoal. Se enriquecermos ou empobrecermos, se sofrermos epidemias, violências, crimes, tráfico, descaso com a saúde, miséria, pobreza, fome, peste e guerra, não será por causa do juízo divino, mas por causa das nossas escolhas, escolhais tais que passam inclusive pelas urnas.

Depois da morte e ressurreição de Cristo e do advento do Pentecoste, o derramamento do Espírito de Deus sobre as pessoas, só resta uma coisa para acontecer segundo a escatologia: o encontro com Cristo, encontro esse que a própria Teologia não definiu se é antes de um período de mil anos ou depois, ou se antes de um período de sete anos de tribulações e problemas na humanidade, no meio desse período ou depois, e se esse encontro com Cristo se dá mediante sua volta ou a ida dos seus fiéis até ele numa espécie de levitação coletiva que a igreja evangélica chama de arrebatamento.

Todavia não há espaço para julgamentos, pragas egípcias, ou coisas do tipo, porque segundo a mesma Bíblia, Deus é imutável no seu ser, nas suas perfeições, nos seus propósitos e nas suas promessas. Não irá de modo algum alterar seus planos por causa do Pascoal. A veracidade divina implica que ele é o Deus verdadeiro, e que todo o seu conhecimento e todas as suas palavras são ao mesmo tempo verdadeiros e o parâmetro definitivo da verdade. Não irá desfazer o que fez em Cristo para refazer no Pascoal.

Além da distorção de um termo e de uma exegese errada, pesa contra o pastor Pascoal o fato de que talvez não devesse falar de política a partir do púlpito. Não pelo fato de que não se deve misturar política ou religião ou de que a igreja nada tem a ver com o estado, ou pelo fato de que Pascoal se ostenta como um homem de Deus e a política é corrupta e corruptível ou qualquer outro preconceito justificável, mas pelo simples fato de que num dos cultos de domingo do ano de 2006, Pascoal chamou ao púlpito para desfazer publicamente possíveis calúnias e boatos acerca de seu nome, bem como para orar por ele e pedir o juízo de Deus sobre todos quantos o injustiçaram e difamaram, o seu mais notável diácono, o então deputado federal pelo PMDB do Paraná, o Dr. André Zacharow, 14º nome na letra A do site fichasuja.com.br, envolvido no chamado escândalo dos Sanguessugas, também conhecido como máfia das ambulâncias, escândalo de corrupção que estourou em 2006 devido à descoberta de uma quadrilha que tinha como objetivo desviar dinheiro para a compra de ambulâncias.

O caso daria origem, no mesmo ano, ao Escândalo do Dossiê, em que integrantes do (PT) Partido dos Trabalhadores foram presos em flagrante pela Polícia Federal comprando, com 2 milhões em dinheiro vivo, um dossiê que revelaria a suposta participação de políticos do PSDB no esquema.

Portanto, compatriotas, levantai vossas cabeças ao alto e respirai. Não haverá juízo por causa das Eleições 2010. Votem pelas propostas dos candidatos a deputado federal, estadual, senadores, governadores e presidentes, e não por aquilo que um pastor de certa referência, vários anos de ministério, mas com uma palavra distorcida, uma exegese errada e uma ética duvidável acha ou deixa de achar.

Há algo que a Bíblia diz sobre o assunto, e esse algo tem endereço certo, Gálatas capítulo 6 versículo 7. Trata de uma regra de vida estabelecida por Deus e que o próprio Deus não vai se deixar envergonhar quebrando essa regrinha: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará”.

Cuidado com o que será semeado em 3 de Outubro, porque a colheita começa em Janeiro de 2011.

sábado, 15 de outubro de 2016

DIA DO PROFESSOR

Eu só tive bons professores. Aos maus, eu não reputo tão honrado título.
Os bons me acolheram com paciência e sabedoria, dividiram comigo o resultado de seus esforços e alguns se tornaram amigos.
A lista é grande: tem a minha mãe, que me ensinou a ler, meu pai que me ensinou a dirigir, meu irmão que ainda hoje me ensina a ser irmão, meus tios, que me ensinaram sobre minha família, mas fora do eixo parental, tem aqueles que foram remunerados para me ensinar e aqui, só os bons merecem referência, porque mesmo pagos, me deram mais do que as suas remunerações pediam.
Mas como escolher o melhor? Simples! Aquele por quem você tem mais carinho, gratidão e saudade; aquele que salta das portas e janelas de sua memória todas as vezes que você pensa em professor e aquele que te ensinou coisas que ainda hoje você sabe e usa o que aprendeu. Particularmente, considero esses quesitos na hora de escolher meu melhor professor. No meu caso, uma professora. Uma professora de teoria musical. Mas ela não é a melhor por acaso.
Quando entrei pela primeira vez em sua sala, havia todo um contexto para que ela fosse a melhor: eu estava ali porque queria aprender música, e havia ganho essa matrícula do meu pai como um prêmio por minhas notas na escola. Estava sedento por tocar e cantar e para isso eu tinha que aprender teoria musical. Toda a minha emoção estava entrando naquela sala naquele dia de março, naquele  ano, 1977. Estava na adolescência e os planos para o futuro eram um tanto quanto confusos e não haviam certezas em mim, salvo a certeza do fato de que eu queria aprender música. Então, quando se é jovem e só se tem uma certeza na vida, a janela do aprendizado se abre para essa certeza.
Era uma sala com menos de dez alunos, carteiras velhas, uma lousa verde com linhas brancas pintadas, um ventilador barulhento e um piano antigo. O ambiente cheirava a mofo e os janelões, quase sempre fechados, davam a impressão de antiguidade e velharia por todo o ambiente. A luz era escura e o teto altíssimo, forrado com uma madeira em decomposição e de alinhamento retorcido, dado o calor e a umidade vinda das infiltrações. A sala era vizinha à cantina e sempre tinha um cheiro de café com gordura nas nossas narinas durante a tarde.  Achei  tudo muito estranho, porque esperava luzes e cores em tudo, como todo bom adolescente espera. Mas vejam que interessante: as luzes e as cores não estavam sob meus olhos, mas nos meus ouvidos.
No horário da aula a professora chegou, jovem, com um brilho nos olhos de quem sabe o que vai dizer, pequenina, magra, com óculos de grau de aro quadrado, lentes grossas escondendo um azul penetrante, que se não fossem os óculos invadiam a alma da gente, cabelos curtos e lisos, uma saia comprida, camiseta e algumas bijuterias meio hippies. Ela apresentou-se, sentou-se ao piano e começou a falar sobre harmonia, melodia e ritmo, representando os sons do mundo em seus dedos precisos sobre as brancas e as pretas debaixo daquela tampa de madeira. Ela disse que podíamos representar os pensamentos nos sons e, como exemplo, nos fez pensar numa catedral enquanto que no piano, tocou os sons da catedral. Não, eu não chorei naquele dia. Estava fascinado demais para isso, mas hoje, é difícil me lembrar daqueles sons sem chorar de emoção. Mal sabia ela que ao tocar os sinos daquela catedral, ela estava abrindo os portões de um mundo mágico e novo para mim, um lugar tão bom e tão especial, que ao longo da vida eu correria para lá por muitas vezes. Umas para celebrar, outras para chorar e lamentar e outras para construir. Nunca um ensinamento havia se impregnado tão intensamente em mim como as coisas que aprendi naquele ano, emocionantemente encerrado com uma peça em conjunto, João e Maria de Chico Buarque e Sivuca, comigo e um colega  no violão e os demais na percussão, com chocalhos e pauzinhos de madeira, marcando o compasso ternário daquela valsa . Aquele ano terminou para mim me dando a certeza de que “agora eu era o herói”.
O tempo passou, e como disse o Zeca, “a gira girou” e muitas vezes, aquelas aulas de teoria foram repetidas para jovens e adolescentes no Nordeste, no Norte e no Sul, ora por necessidade, ora por solidariedade. E hoje, violonista de boteco e pianista medíocre, me lembro da pianista do filme do Benjamim Button, quando disse a ele que “não importa o quanto se sabe tocar, mas importa o que se sente quando se toca”. E hoje, quando toco e canto, sou grato por toda a vida à minha professora de teoria musical, Elvira Drumond.
Peço a Deus que ela viva muito e muito bem, em plena atividade docente, salvando crianças da dor, das drogas e da violência, mostrando a elas os portais do mundo mágico da música, formando pianistas, violinistas, flautistas, maestros  e, num dia muitíssimo distante, quando ela for para o céu, que o Rei Davi esteja à porta esperando por ela e diga, entra, professora, porque o louvor aqui está precisando de afinação, há um problema com as harpas e parece que Asaf resolveu semitonar com sua flauta. Por favor, dê um jeito nisso porque eu já estou sem paciência! E assim, eternamente ela seja a Tia Elvira, professora, mestra, ensinadora, em sua plena essência universal.

Feliz dia do professor, tia! Este antigo aluno aqui, agradece a Deus por sua vida.